quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Arte, Inimiga do Povo


Desde o título, esse livro, que releio agora, cinco anos depois, se mostra polêmico e muito instigante. Se tem uma ideia que dificilmente questionamos é o caráter pretensamente universal, sublime e superior daquilo que é considerado arte em nossa sociedade. Mesmo as pessoas que não se identificam com ela, aprendem a reconhecê-la como uma manifestação elevada à qual somento pessoas de espírito superior têm acesso. Dominar seu conhecimento, possuir a sensibilidade para contemplá-la é coisa para poucos.

O autor busca desconstruir o quase consenso que paira sobre o assunto, ao demonstrar que essa noção (do que é ou não é arte) se desenvolve historicamente, em condições sociais específicas e é mascarada através de um discurso que defende a universalidade e a plenitude da arte enquanto realização do ser humano. Em suas palavras:  "[a arte] não passa de uma grande farsa, um jogo de cena das classes dominantes para vender seu estilo de vida como algo superior e elevado". Ou seja, há um direcionamento ideologico de um grupo de pessoas auto-interessadas, que confere tal classificação as suas próprias preferências e a usa como um símbolo distintivo de classe. Convencem, através de uma suposta legitimidade auto-conferida, que falam em nome da humanidade que isso e não aquilo é arte e que portanto é algo a ser apreciado e valorizado como tal. Assim, até mesmo aqueles que criticam a ideologia burguesa de alguma forma acabam endossando sua visão.

Não posso deixar de concordar que a "alta cultura" só é superior de maneira muito artificial e questionável e é usada para menosprezar as práticas e preferências do restante da população. Somos bombardeados o tempo inteiro e de maneira quase imperceptível sobre o que tem qualidade e o que é porcaria no âmbito da cultura. E a própria massa, de maneira geral, apesar de não se sentir atraída pelo hábito culturais da elite, aceita e dissemina essa noção dando a ela um tratamento respeitoso e reverente, como "coisa de gente culta". Escritores, pintores, compositores são manipulados como símbolo de distinção de classe.

O autor propõe, a partir dessa desmistificação, uma "ofensiva popular", que negue qualquer traço de superioridade do mundo da arte, não apenas por ser falsa, mas  "porque é parte integral da opressão social infligida à maioria das pessoas". (p. 32)


5 comentários:

Mayra disse...

Acho q este assunto da mto pano pra manga. è necessário saber ( e provavelmente vc que leu o livro sabe) quais as concepções/visão de cultura, sociedade, arte, e quais associações o cara faz e se apoia para fazer esta reflexão.
Parece-me razoável, mas em alguns pontos, tbm questionável.
Acho que o discurso era mais atual há 5 anos atras, hj vejo as coisas um pouco diferente, sei lá, tvz não tenha ficado claro.

fernando disse...

acho que o autor tem uma visão bem peculiar do que é "arte", ele se refere basicamente (como eu coloquei no post) à "alta cultura", dos museus e teatros, as "belas-letras" e tudo aquilo que se opõe à cultura popular. Até por que, a própria cultura popular, para se aceita como arte, deve de alguma forma passar pelo crivo do formador de opinião. ele exemplifica pelo jazz, gênero músical inicialmente marginalizado, de negros (bem no estilo do funk hoje em dia!) e que com o passar do tempo foi sendo reconhecido e inserido no âmbito da boa música e se tornou o que conhecemos atualmente.

fernando disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
fernando disse...

Eu faço um aparte para as conclusões dele, reconheço esse processo de dominação cultural que oprime e dita regras para as massas, mas ao mesmo tempo não acho a arte em si a "inimiga do povo". ainda consigo ver nela um valor intrinseco que vai além do seu valor ideológico. ou seja, por mais que a burguesia se aproprie de determinados expoentes culturais e os usem como símbolos de distinção de classe, ainda acho que eles possuem algo que merece ser contemplado e que é esteticamente recompensador.

Mayra disse...

Acho q a arte é a mesma para todos, porém cada um a absorve de forma diferente, e é ai que entra a cultura (e tbm a cultura de classes). Considero a arte democrática, e qdo digo isso não estou me referindo ao acesso que as pessoas tem a museus, teatros, etc, mas da livre interpretação que ela possibilita, enfim...
Eu acho q ai tem uma mistura de diversos valores...