quinta-feira, 17 de outubro de 2013

a felicidade como um ventre...

"Adorno observa que não é possível estabelecer, com a felicidade, uma relação de posse. Não é certo dizer 'temos felicidade', 'somos donos de uma coisa chamada felicidade'. Não a temos, diz Adorno, 'mas sim estamos dentro dela'.
"Ele continua: 'a felicidade é sentir-se envolvido, é uma reminiscência do ventre materno. Por isso, quem é feliz nunca pode saber que o é. Para dar-se conta da felicidade seria necessário sair de dentro dela. Quem afirma ser feliz está mentindo, e, ao invocar a felicidade, peca contra ela. Só quem afirma: 'fui feliz' é fiel à felicidade. A única relação da consciência com a felicidade é a da gratidão: nisto consiste sua incomparável dignidade".

( COELHO, Marcelo. A dificuldade de ser feliz in Tempo Medido, São Paulo: Publifolha, 2007)
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 sabido esse adorno...

sempre pensei mesmo nessa tal de felicidade como frágil e incerta, algo que se dissipa no ar ao ser pronunciado.
parar pra pensar, procurá-la, definí-la, apreendê-la, já seria uma forma de renunciar a ela, colocar-se "do lado de fora". 
como quando sonhamos, prestar atenção na sua existência é não vivenciá-la...

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