segunda-feira, 7 de outubro de 2013

algumas linhas sobre o "guia politicamente incorreto da história do mundo"

esse novo "guia politicamente incorreto" não foge aos dois primeiros: se empenha em bater num suposto monopólio esquerdista do pensamento e traz um catado de temas desde a antiguidade até o mundo contemporâneo. muitas coisas servem como curiosidades, não sendo tratadas muito a fundo e por vezes misturando fatos com opiniões pessoais (o que pode ser perigoso).

assim como os outros livros que tratam de temas do brasil e da américa latina, é impossível lê-lo indiferente. o objetivo é declaradamente incomodar, fazer barulho e nesse objetivo o livro é feliz. claro que tem falhas graves, é provocativo e para isso arrisca-se a raciocínios simplificados e interpretações questionáveis dos fatos. ao discordar de uma visão histórica supostamente estabelecida e majoritária ele comete o mesmo erro de ser tendencioso. é como se o que foi dito até então (o que por si só já é uma simplificação, já que a própria historigrafia é ampla e diversificada) fosse o "errado" e o que ele diz agora seja o "certo". além disso me incomodou o fato de tentar escrever de forma descolada e engraçadinha, como se estivesse falando com pessoas que têm dificuldade de entender.

se tem uma mensagem que esse livro traz (pelo menos implicitamente) e que eu não posso deixar de concordar é a de que a História é muito mais complexa do que nós aprendemos na escola. eu não saberia fazer um julgamento acurado sobre Nero ou Gandhi, por exemplo, mas tenho a convicção de que foram personalidades grandiosas, cheias de nuances, muito mais do que nos acostumamos a ver depois, num discurso consolidado. Não é possível e nem desejável colocá-los de antemão no lado dos mocinhos ou dos bandidos. até porque a própria maneira como os fatos chegam até nós está totalmente imbricada a quem escreve e ao espírito da época em que se escreve e, sendo impossível fugir totalmente disso, temos que nos posicionar de maneira cautelosa em relação ao todo. é interessante perceber essa tendência, ao saber que a maneira como nos acostumamos a ver os samurais hoje em dia é uma forma romanceada como se passou a retratar a época, meio que num movimento de nostalgia e saudosismo, um bom tempo depois. assim também, creio realmente que a idade média foi muito mais do que uma época de obscurantismo e que o facismo enquanto movimento político não foi simplesmente o resultado de mentes monstruosas arquitentando a dominação mundial. a história é sempre muito mais do que nos dizem sobre ela...

porém Narloch deixa isso claro ao mostrar o contraste entre opiniões destoantes (a dele e a dos "politicamente corretos") e não sendo um analista ponderado (até porque não creio que tenha sido esse seu objetivo). assim, ao dizer que o capitalismo foi a melhor coisa que poderia acontecer aos pobres (sim, ele fala isso!) ele deixa exposto que se isso não é verdadeiro (e só uma mente grosseira poderia corroborar tal afirmação), ao mesmo tempo coloca algumas pulgas atrás da orelha, ao tentarmos ser mais honestos e avaliar o que aconteceu na revolução indústrial como o acúmulo e a convergência de uma série de acontecimentos anteriores que culminaram num novo sistema produtivo e de organização social. politicamente pode-se posicionar em relação a essa forma de interação humana como "contra" ou "a favor", "feio" ou "bonito" mas ao buscarmos uma análise histórica abrangente temos que ir muito além. entre o preto e branco há uma infinidade de outras tonalidades às quais o historiador deve-se atentar ao compor um quadro. o autor faça isso, muito pelo contrário, mas meio que num processo dialético, ao negar algumas supostas verdades ele pelo menos deixa à mostra a fragilidade com que os discursos são produzidos.

enfim, leiam se os temas abordados interessarem, mas tenham cuidado para não dar mais legitimidade ao livro do que ele merece.

não saberia ser mais claro sobre minhas opinões, então prefiro resumí-las entre os pontos positivos e negativos:

PRÓS

busca oxigenar e trazer outros pontos de vista a fatos do passado. mesmo que passíveis de refutação, pelo menos nos fazem questionar. tira do lugar comum e da acomodação de uma verdade estabelecida.

ao dizer coisas não comumente ditas sobre esses fatos, nos incentiva a problematizar e vê-los de uma maneira mais humana e complexa.


é extramente instigante, capta a atenção mesmo quando escreve coisas absurdas e a partir disso me obriga a rever e reforçar  meus posicionamentos. 
CONTRAS

na ânsia de ser polêmico e procativo, acaba defendendo pontos de vista de maneira totalmente simplificada e precipitada. assim, incorre no mesmo erro de que acusa a história majoritária dos livros escolares ao "ideologizar" a informação.
não dá pra dar crédito a muita coisa que ele defende por que percebe-se uma argumentação frágil e descontextualizada. me parece que não entende de muita coisa que diz.
tenta ser engraçadinho e raso na maneira de escrever, como se precisasse "facilitar"a comunicação para ser entendido. pelo menos pra mim isso cansa e deixa o texto mais pobre (às vezes lembra a galera que escreve comentários na internet).


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