depois de muitos anos na minha lista de filmes a assistir, finalmente tive a oportunidade de encarar as mais de 3 horas de duração de "a lista de schindler".
antes de tudo tenho que dizer que, apesar de ser longo, ele transcorre de maneira muito suave e agradável, prendendo a atenção do espectador e mantendo um bom ritmo durante todo o filme. não posso dizer que tenha havido alguma passagem que eu considerasse desnecessária ou enfadonha. cenas de extrema degradação e violência são constrastadas com a opulência dos oficiais nazistas, numa fotografia em preto e branco belíssima, que acentua a crueza e o horror sempre presentes.
Liam Neeson está ótimo no papel de Oskar Schindler, um personagem sedutor e cheio de si, mas para mim quem rouba a cena é o contador judeu Itzak Stern, que mesmo ciente da situação desesperadora em que se encontra, consegue manter-se numa certa posição de dignidade, sóbrio e comedido, conquistando a confiança e admiração de Schindler.
a história mantem-se o tempo todo interessante, contada com maestria e que consegue, sem dúvida sensibilizar e chocar. conta, em linhas bem gerais, a história de Oskar Schindler, empresário alemão e membro do partido nazista que, com o intuíto de ganhar muito dinheiro, se propõe a empregar mão de obra judia (pela qual se pagava menos) em sua fábrica. o que a princípio era somente um "aproveitar-se da situação" (que envolvia contar com investimento de judeus e conquistar a simpatia do governo, para contar com vantajosos contratos), acaba ganhando contornos humanitários, quando trabalhar na fábrica de Schindler torna-se uma segurança para centenas de judeus que viam dia a dia suas condições de vida se precarizar. mesmo que não compartilhando o sentimento anti-semita dos outros nazistas, o empresário está mais preocupado em maximizar seus lucros, mas acaba tomando partido na tentativa de salvar o máximo possível de judeus e, graças a sua influência com os oficiais nazistas e despendendo a fortuna que conseguiu juntar, ele suborna o comandante do campo de concentração, para que os trabalhadores de sua fábrica pudessem ser levados para Tchecoslováquia e não para Auschwitz, para trabalharem numa fábrica munições. Mesmo correndo o risco de contar uma parte que eu não deveria da história, chega a ser engraçado quando ficamos sabendo que nos sete meses em que a fábrica funcionou ela foi (propositalmente) um exemplo de ineficiência, na qual Schindler gastou todo o restante de sua recem adquirida fortuna.
o que se vê na tela, e o que mais me espantou, é a crescente negação da humanidade dos judeus. mais do que um grupo a ser exterminado, eles perdem completamente sua condição de seres humanos, passando as mais degradantes humilhações, contra as quais mal podiam resistir. tornam-se um número, seres indesejáveis, desprezíveis, incomôdos na sua existência e na sua morte, contra os quais a única preocupação passou a ser como eliminá-los da formas mais eficaz. fica no ar a pergunta, difícil de responder, de como é possível que se possa negar, com tanta convicção e naturalidade os direitos mais básicos de dignidade a parte do seres humanos. a despeito do anti-semitismo histórico e sempre presente, qual é a lógica que opera num regime que em poucos anos consegue convencer todo um país de que faz-se necessário que uma parte enorme das pessoas devam deixar de existir, deixar de ser reconhecidas como pessoas, num processo que desarma e subjulga de tal forma as vítimas, que elas se veem sem condição de resistir ou reagir, submetendo-se totalmente ao seu algoz.
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