pausa:
é como se eu sempre estivesse dois passos atrás de mim mesmo.
aturdido, limitado pela minha própria pseudo-sagacidade.
olho todos ao meu redor, tão sábios, seguros de si e do mundo. andam de peito estufado, exibindo insígnias invísiveis...
não falam nada, os cínicos!
eles sabem o que vem depois, sabem o que se passa agora... fico intrigado: "há aí alguma coisa!". não me contam, dissimulam, passam reto,
piscam cúmplices uns aos outros e guardam o segredo para si.
não, da minha parte não há sagacidade nenhuma... fico distraído, olhar perdido em alguma parede branca. procuro em tudo uma possível revelação, o êxtase emocional que nunca chega a se cumprir.
há em mim um desejo pueril de redenção. o surgimento triunfal do herói para nos salvar.
"deve haver alguma coisa que ainda te emocione", diz a canção.
então eu espero o momento em que tudo finalmente se encaixe e faça sentido.
e nesse momento eu diria aliviado: "puxa, é isso. tão simples! cá estamos, no topo da roda gigante".
mas não, há sempre algo que me é inescrutável, inacessível...
algo que eu não sinto, não toco, não penso, não intuo e que talvez nem mesmo esteja aqui
(ou lá, ou em qualquer lugar).
eu tento me enturmar. digo que sei o que eles sabem, finjo que vejo a nova roupa do rei.
eles sabem que eu não sei... e posso jurar que riem pelas minhas costas. "como pode, coitadinho".
fico assim, com esse fiapo de carne (entre o primeiro e o segundo molar) que o fio dental não tira.
mas como incomoda!
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
Cinema em 2013
Com certeza não vi tudo o que queria no cinema no ano que passou. Muitas vezes falta tempo, dinheiro ou disposição. Mas enfim, daquilo que eu vi acho que os seguintes merecem ser relembrados:
Django Livre - Inevitável que este estivesse aqui. Aguardava com curiosidade esse novo filme do Tarantino, dessa vez com uma temática western que me atrai bastante. A parceria entre o caçador de recompensas e o escravo Django deixa a história bem interessante, assim como sua posterior jornada para enfrentar um poderoso aristocrata e libertar sua esposa, carregada de tensão e claro, muita violência e litros de sangue.
No - O Gael Garcia Bernal é um puta ator e a história é contada de forma muito interessante. Baseado em fatos reais, passa-se no Chile, na época da ditadura militar e mostra os esforços da oposição em defender e propagar seu posicionamento político no momento em que o governo é pressionado a propor um referendo sobre a permanência ou não do Pinochet no poder. Gostei muito do enfoque dado ao marketing como arma política num país controlado.
Anna Karênina - Uma história grandiosa, contada de forma exuberante. Essa versão tem umas ousadias estéticas que me agradaram, como sugerir em alguns momentos pedaços de um palco, como se a cena se passasse no teatro. Gostei muito da direção de arte e da atuação da Keira Keithley e do Jude Law.
Hannah Arendt - Filme lento, de ideias. Mostra uma mulher brilhante e intensa, num dos episódios que marcaram sua vida intelectual, quando de maneira polêmica e corajosa analisa o julgamento de um ex-oficial nazista (Eichmann). Na contramão das opiniões da época questiona a pretensa "monstruosidade" que queriam atribuir a ele, bem como a resposabilidade dos líderes judeus na forma como conduziram as decisões relativas a seu povo na época do holocausto. Enquanto filme não é nenhuma maravilha, mas me interessou muito por me aproximar ainda mais da admirável pensadora que foi Arendt.
Pedalando com Molière - Dois atores se encontram para fazer leituras dramáticas de "O Misantropo". Um deles, ator famoso, tenta convencer o outro, um recluso, afastado há anos dos palcos, a encenar essa peça. O tema da misantropia (desgosto pela sociabilidade, ódio pela humanidade) vem à tona e é trabalhado no filme (pr'além da peça) de forma muito instigante, principalmente na relação de amizade e de rivalidade que eles nutrem um pelo outro.
Gravidade - Gostei muito do foco da história, que é a sobrevivência quase como instinto. Não há atos de heroísmo e nem grandes peripécias e o ser humano é colocado como totalmente vunerável, exposto à força avassaladora da natureza, o que causa uma constante aflição. A protagonista tem muito medo e pouca coisa a fazer para se salvar, devendo inclusive vencer suas barreiras psicológicas. O final é inspirador e emocionante, tanto como desfecho quanto como metáfora sobre o (re)nascimento. O filme visualmente é lindo, com o espaço sendo retratado de maneira grandiosa.
Vovô sem Vergonha - Com Johnny Knoxville (aquele do Jackass) no papel de um avô que viaja o país para levar o neto para morar com o pai, é para quem gosta de filmes tipo Borat, em que as cenas são gravadas sem que as pessoas que participam saibam, sendo surpreendidas com as situações mais inusitadas e absurdas pelos atores. Recheado estupidez e escatologias variadas, me fez sair do cinema com o rosto doendo de tanto rir. O molequinho que faz o papel do neto é um sarro e a última cena dele é a melhor do filme.
Gravidade - Gostei muito do foco da história, que é a sobrevivência quase como instinto. Não há atos de heroísmo e nem grandes peripécias e o ser humano é colocado como totalmente vunerável, exposto à força avassaladora da natureza, o que causa uma constante aflição. A protagonista tem muito medo e pouca coisa a fazer para se salvar, devendo inclusive vencer suas barreiras psicológicas. O final é inspirador e emocionante, tanto como desfecho quanto como metáfora sobre o (re)nascimento. O filme visualmente é lindo, com o espaço sendo retratado de maneira grandiosa.
Vovô sem Vergonha - Com Johnny Knoxville (aquele do Jackass) no papel de um avô que viaja o país para levar o neto para morar com o pai, é para quem gosta de filmes tipo Borat, em que as cenas são gravadas sem que as pessoas que participam saibam, sendo surpreendidas com as situações mais inusitadas e absurdas pelos atores. Recheado estupidez e escatologias variadas, me fez sair do cinema com o rosto doendo de tanto rir. O molequinho que faz o papel do neto é um sarro e a última cena dele é a melhor do filme.
segunda-feira, 6 de janeiro de 2014
"Doze meses e lá se vai um ano". De novo! Me impressiono fácil com essas coisas... fico a pensar no que foi e no que será. Não que eu tenha muito controle sobre tudo, claro. Se ouso pensar que tenho, logo vêm uma força estranha (destino, acaso, deus?) me mostrar o quanto estou suscetível. Me colocam sentado na primeira fileira e encenam minha vida com um roteiro escrito de improviso. Mas no final das contas pode até ser boa essa sensação de fragilidade, ser um barquinho à deriva nesse marzão aberto e - por que não? - aproveitar os minutos antes do naufrágio ao som de Cartola ou Nelson Cavaquinho. Acho que os 365 dias que chamamos de 2013 foram importantes pra perceber isso.
Perceber também o tempo acumulado, em forma de "datas e nomes", pessoas, experiências, lembranças que passarão a dormir e acordar comigo. Se espalharão pelos cantos da casa e me acompanharão quando sair. Isso me assusta e me acalma, me torna exatamente aquilo que sou. Não que seja algo a ser orgulhar, poderia ser outro (infinitas possiblidades), mas o pouco que sei é deste aqui, homem banal, que por mais que esconda tem esperanças para os próximos 12 meses e remói saudoso todos os outros que passaram.
E que a contagem regressiva continue enquanto eu finjo que sei o que estou fazendo! Afinal, "quem sabe de mim é meu violão".
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