terça-feira, 1 de abril de 2008

O Poeta-Operário

Grita-se ao poeta:
"Queria te ver numa fábrica!
O quê? Versos? Pura bobagem!
Para trabalhar não tens coragem".

Talvez
ninguém como nós
ponha tanto coração
no trabalho.
Eu sou uma fábrica.
E se chaminés
me faltam
talvez
sem chaminés
seja preciso
ainda mais coragem.
Sei
Frases vazias não agradam.
Quando serrais madeira
é para fazer lenha.
E nós que somos
senão entalhadores a esculpir
a tora da cabeça humana?
Certamente que a pesca
é coisa respeitável.
Atira-se a rede e quem sabe?
Pega-se um esturjão!
Mas o trabalho do poeta
é muito mais difícil.
Pescamos gente viva e não peixes.
Penoso é trabalhar nos altos-fornos
onde se tempera o ferro em brasa.
Mas pode alguém
acusar-nos de ociosos?
Nós polimos
com a lixa do verso.
Quem vale mais:
o poeta ou o técnico
que produz comodidades?

Ambos!
(...)

Maiakóvski, Vladimir (trad. de E. Carrera Guerra)
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Pose e poesia?

3 comentários:

Anônimo disse...

voto no pose...mas todos sbemos que ser modelo tambem é um trabalho...

Anônimo disse...

"pose e poesia?"

vamos voltar a conversa de onde ela parou no ultimo post ligado a esse...

arthur belmont disse...

assim é covardia...
maiakóvski é um dos meus preferidos também.outro dia falei dele lá no dipersona e sua ligação com a rafa.
é o cara que andava com uma colher no bolso de sua camisa amarela.fantástico.
belo poema.