quarta-feira, 17 de março de 2010

A náusea me faz vomitar o que eu penso
A febre me ajuda a perder o bom senso
O delírio me inspira as palavras mais certas
O instinto mantém minhas veias abertas

Não há tratamento pra minha patologia
O que não me mata eu transformo em poesia

A dor me obriga a abraçar os espinhos
O cansaço me leva a seguir meu caminho

Não há tratamento pra minha patologia
O que não me mata eu transformo em poesia

(náusea/ lestics)
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gosto bastante dessa banda, que descobri há uns anos atrás nem lembro exatamente como (sei que foi pela internet). poderia citar diversas diversas outras músicas deles, que no geral são muito boas, (conseguem conciliar um instrumental bem legal com letras inspiradas e inteligentes), mas optei por essa por tratar de um assunto interessante e por eu achar especialmente bonita (ouçam, se possível, apesar de haver sempre a barreira dos gostos).

[ainda que deva salientar que ela se atém a um ritmo lento e arrastado, o que, apesr de tudo, contribui para criar um clima na música, e em nos fazer sentir exatamente o desconforto/ angústia de que fala a letra, como uma cena que se desenvolve em câmera lenta]

o processo criativo é, antes de tudo, retratado como uma maneira de dar vazão às angústias da vida e encontra correspondência com reações/ sensações do corpo, no geral atordoantes e dolorosas. não é um processo racional, mas antes uma necessidade, quase um espamo, uma reação que se dá diante das circunstâncias da vida e que por vezes se confunde às reações fisiológicas mais deconfortáveis. cria-se porque vive-se e porque viver (muitas vezes) dói. ambos são intrísecos e não se pode ser artista antes de viver e sentir. não é algo espontâneo ou uma atividade tranquila. surge a partir da necessidade de se "transformar aquilo que não mata em poesia".

vomita-se o que se pensa e é o delírio e não a razão o que possibilita que se chegue às "palavras mais certas". iguala-se, portanto, o ato de criar à reações corporais. não é exatamente uma escolha, assim como não o são a náusea, a febre ou o delírio. todas essas coisas nascem de uma mesma fonte. talvez opte-se por transformar ou não aquilo que quase mata em "poesia" (ou música, ou qualquer outra coisa), como uma forma de alívio, mas ainda assim é algo que está latente, a espera de uma forma própria.

gosto dessa ideia de que a expressão "artística" (sempre num sentido amplo, por favor) surge mais como uma necessidade, um impulso do que pela técnica ou trabalho árduo (à moda parnasiana). talvez com esses dois consiga-se um maior controle sobre as ferramentas disponíveis para a criação (sei lá, um cara que estudou 10 anos de um instrumento saberá tocá-lo melhor do que alguém que saiba somente o básico), mas não necessariamente o produto final, a música, será melhor ou mais autêntica (no sentido de expressar melhor os sentimentos). claro que isso é só um lado da questão, mas pra mim é o lado mais sublime.

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