terça-feira, 30 de março de 2010

sobre homens e medos de verdade

"uma lembrança de mãos dadas, de casal que anda de mãos dadas pela praia na chuva, um filme
velho gravado numa fita cassete, um olhar para o mundo dentro da roda gigante...
"o homem de verdade atravessa tudo isso aguardando a solidão sem medo, que nem o moleque
cruza os olhos para aquela janela e nunca mais vê aquela garota."


queria ser esse homem de verdade. aguardar serenamente, sem medo, a solidão que cedo ou tarde chega. dizer a ela de peito aberto: "vem! te aceito como companheira". sentir as areias do tempo escorrendo pelas minhas mãos e rir cinicamente. achar graça de todo desespero...

bom seria que o sol, grave e pesado, caísse no horizonte abissal e levasse consigo os meus sonhos e pesadelos, angústias e desejos, me deixasse vazio e completo e que eu pudesse, assim, dormir um sono tão pesado e tranquilo como há muito não faço.

queria poder brindar ao dia em que estaremos todos mortos. ou antes, a cada dia em que as lembranças pesam tanto a ponto que preferiríamos não ter nascidos. que eu olhasse as coisa com a certeza de já estarem mortas, calidamente descansando a minha volta e achasse isso bonito e natural. sorriria então de copo erguido e beberia à larga. saudaria sua ausência como se fosse a melhor que eu pudesse ter.

não tenho medo da solidão. tenho medo que a lembrança e a saudade (da vida que tive ou não) penetrem cada poro do meu corpo, me sufoquem de tal forma que eu lamente a vida.
que eu renegue a vida!
que eu não seja homem de verdade...

2 comentários:

arthur belmont disse...

poxa, gostei muito da sua interpretação; soa como nos velhos tempos "di persona" onde havia uma colaboração entre os blogs.falando assim, parece que faz muito tempo!
apesar de ter escrito, também te digo não sou esse "homem de verdade"...
acho que quando éramos crianças/moleques simplesmente não pensávamos nisso: a vida ia seguindo como se o "voltar para casa" fosse o nosso recomeço, um papo para falar com a molecada na rua, uma imagem que guardávamos de uma garota pela praia ou janela.
quando éramos crianças, nós éramos esses "homens de verdade".
hoje somos crianças, e temos um monte de medos e anseios.

fernando disse...

engraçado eu estar pensando algo próximo disso quando li seu post. sobre esse medo que dá ver a areia do tempo escorrendo entre minhas mãos sem que possamos fazer nada. saudade de ser uma criança e fazer um castelo com toda essa areia caída no chão...