quinta-feira, 11 de outubro de 2012

sonetinho duma noite de outubro

noite mais escura do que esta não há
atravesso-a tenso, lento, alerta
os dois olhos desenham uma janela,
imaginada salvação solta no ar

neste colchão há tanta solidão, demais
umideço-o de considerações e impertinências
sombra que sou, desdobro-me em penitências
arrebatamento tardio das fantasias matinais

sobre o leito, esfacelado, ainda me lembro,
corroi-me o eterno lamento de um segundo
que, perdido, evapora-se na madrugada

ontem mesmo nutria sonhos e era setembro
havia em mim toda a esperança do mundo,
mas agora, finda a tarde, só me resta o nada
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"A Noite vai crescendo apavorante
E dentro do meu peito, no combate,
A Eternidade esmagadora bate
Numa dilatação exorbitante!"

(Augusto dos Anjos)

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