minha querida,
somos do tempo em que as bicicletas voavam
e o céu era vermelho, da cor das flores aqui de baixo.
lembro que gostava de ficar deitado na grama a brincar de achar desenho em nuvens.
eram muitas, uma infinidade de formatos.
somos do tempo em que o "tempo" era só uma abstração,
uma contabilidade mau feita e ranzinza de cada batida de coração,
um par de ponteiros sem propósito.
minhas horas, na verdade, eram medidas em centímetros
em cheiros
(se eu pudesse era o que eu mais desejaria ter pra sempre),
em risadas,
na eterna adivinhação do presente.
agora,
tudo o que tenho é um livro de apontamentos
e só o que posso é ser descritivo
tentar capturar o momento,
o topor...
mas as ruas escuras não cabem,
não cabem o sal, nem o mar.
não me admira que esteja de partida
sei que você deseja voltar para aquele lugar
se eu soubesse como, juro que te levaria.
também fui jogado aqui antes que desse por mim...
nos seus sonhos você continua a andar em bicicletas voadoras.
4 comentários:
Me senti mais triste ao ler, dias meio estranhos estão sendo esses...
Quase sem palavras. Sensibilidade que desenha uma história que poderia ser minha. Gostei.
também poderia ser minha [mas não foi].
desaprendi a andar de bicicleta [principalmente as voadoras].
claro que foi
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