terça-feira, 6 de abril de 2010

...e ainda

sabemos bem, você e eu, que, no fim, é sempre sobre adeus... so há o vazio, ausência tão real e viva. de doer o estômago!
beijos de febre, olhar em segredo, mãos, pernas, a pele clara, quente e desejosa de mim, seu corpo em confidência. seu cheiro! se tudo existiu um dia foi para que se soubesse que logo deixaria de exisitir. permaneceria assim: miragem, desejo, saudades... sombra pairando sobre meus pensamentos. todos os corpos são assim (só existem na lembrança)! sucessão de momentos fugazes, fugidios. tentamos retê-los em vão,sabemos ser impossível.
não lamento mais o triste destino de tudo que há e que logo mais deixa de haver. sou vazio, cabe em mim toda a ausência e mais. meu coração é do tamanho do mundo e ele se desfaz dia-a-dia. aceito, sereno, o acúmulo de tempo (coisa morta, que se quer viva), a recordação, entre bem-vinda e melancólica, que vez ou outra faça-se presente.
e afinal, a vida é ou foi?
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"Mas vem o tempo e a ideia do passado
visitar-te subitamente na curva de um jardim.
Vem a recordação, e te penetra
dentro de um cinema, subitamente.

"E as memórias escorrem do pescoço,
do paletó, da guerra, do arco-íris;
enroscam-se no sono e te perseguem,
à busca de pupila que as reflita.

"E depois das memórias vem o tempo
trazer novo sortimento de memórias,
até que, fatigado, te recuses
e não saibas se a vida é ou foi"


(Carlos Drummond de Andrade)

Um comentário:

Primavera disse...

Clap! Clap! Clap! Clap! Só me resta aplaudir. O texto ficou esplendido! Parabéns!