"Agora percebo que estamos amputados e frios.
Não tenho voz de queixa pessoal, não sou
um homem destroçado vagueando na praia.
Muitos procuram São Paulo no ar e se concentram,
aura secreta na respiração da cidade.
É um retrato, somente um retrato,
algo nos jornais, na lembrança,
o dia estragado como uma fruta,
um véu baixando, um ríctus
o desejo de não conversar. É sobretudo uma pausa oca
e além de todo vinagre."
(Carlos Drummond de Andrade)
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agora percebo... mas ainda creio que seja melhor assim (hesito, porém).
e eu sinto cada palavra, como se fosse um corte.
[havia escrito antes, num devaneio, sobre a importância de se arrancar os dedos junto com os aneis (carbonoeamoniaco.blogspot.com/2010/05/intempestivo.html). reconheço, porém que, nos "percebermos amputados e frios" atormenta... não nego que a ausência (de algo que tinhamos por nosso) doi. só que mais doloroso seria mantê-los para lembrar-nos os aneis perdidos. e quando finalmente houver um novo dia (depois da "pausa oca e além de todo vinagre") seremos finalmente outros. afinal, é da carne viva que surge a pele nova, né? (ou será sempre cicatriz?)]
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