terça-feira, 22 de junho de 2010

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"Said the hero in the story
'It is mightier than swords
I could kill you sure
But I could only make you cry with these words'".
(Get Me Away From Here, I'm Dying/ Belle and Sebastian)

"Nenhum metal pode perfurar o coração com tanta força quanto um ponto final colocado no lugar certo"
(Isaac Bábel)
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Ainda sobre essa coisa toda de palavras (e pontos finais), a força que elas contêm e sua capacidade de mover o mundo (e protagonizar muitos outros acontecimentos menores e ainda assim relevantes).

Sim, pode-se matar com espadas. Pode-se matar de muitas outras maneiras. É um ato relativamente simples e sem mistérios. Muitos animais matam outros animais o tempo todo. Não somos exatamente originais ao fazê-lo. Mas a capacidade de fazer chorar com palavras sim é algo próprio do ser humano. É a colisão de existências a princípio separadas umas das outras. É fazer-se presente frente ao outro da maneira mais contundente possível. Tomar de assalto seus sentidos e seus pensamentos...

Gosto desses dos dois trechos acima justamente por evidenciarem isso. Como algo imaterial, que não existe senão simbolicamente e por convenção, pode ter toda essa efetividade latente. Como podemos tocar um outro distante e praticamente inacessível por meio do que se diz ou do que se escreve. Sim, se fôssemos ilhas as palavras seriam pequenos barcos que, ainda que de maneira tímida e pouco eficaz, permitiriam esse contato. Permitiriam que eu pudesse causar reações no outro sem encostá-lo, sem nem mesmo conhecê-lo.

O que é um ponto final (e a escrita de maneira mais geral)? Tudo e nada ao mesmo tempo. Friamente analisado é uma marca (uma mancha), que pode dizer absolutamente nada, não fazer sentido algum. Mas frente aos olhos certos (e ao coração certo?) pode causar as mais diferentes sensações. E é estranho sentir o coração perfurado dessa maneira. Parece loucura quando se lê ou se ouve determinadas palavras (ou ainda certos silêncios) e as sentimos como se elas fossem vivas, ou como se ali pudessemos presenciar uma vida, no sentido mais material e pungente possível. Um soco no estômago ou o chão perdendo sua consistência sob pernas bambas... Coisas "inventadas" que tem a força de coisas "reais".

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acho que complementam:

http://carbonoeamoniaco.blogspot.com/2010/04/urgentissimo.html

http://carbonoeamoniaco.blogspot.com/2010/04/ainda-sobre-urgencia.html

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