segunda-feira, 3 de maio de 2010

ainda sobre a urgência

Talvez e só talvez (aliás tenhamos essa palavra sempre à mão, para que possamos afrouxar as ideias e arriscar mais) tenha me passado pela cabeça o desejo (ou a curiosidade) de que cada palavra fosse a palavra mais exata, que só viesse à tona por absoluta necessidade, pela falta que ela faz no mundo e que em cada uma delas transparecêssemos sem rodeios.

Simples: Nada de dizer e desdizer. Ou dizer sem ter certeza, esperando a possibilidade de voltar atrás depois. Que cada palavra dita (e por sua vez ouvida) cobre o seu preço, que se faça sentir na pele. Que fique marcada em nós sua pulsão de objeto vivo e forte... Nunca haveríamos de sentir tanto o que dizemos e se ainda assim disséssemos seria por pura falta de opção. Falamos sempre tanto, nos perdemos entre milhares de palavras frívolas, rasas. Quase objetos de decoração... Se fosse dizer que ama, deveria amar a ponto de estar disposto a sentir essas palavras doerem e ainda assim seria menos dor do que calá-las. A mesma coisa ao dizer que odeia. Ou que mata. Se diz que é assim, que seja mesmo. E de uma maneira tão visceral e profunda que não reste nada mais, a não ser aquelas palavras e o que elas trazem consigo de urgente.

Cada palavra com a força de uma vida. Aí sim haveria poesia.

5 comentários:

Anônimo disse...

e quando as palavras precisam ser leves?? o que não quer dizer falsas ou banais.

fernando disse...

que elas sejam leves então... mas ainda assim carreguem em si a força de uma vida, continuem sendo intensas e exatas.

ah, sei lá, como eu disse no começo, é só uma curiosidade, uma imaginação.

Anônimo disse...

mais uma pergunta exata, e quando você não cabe mais na palavra?

e o grande oráculo, já cansado e mal humorado responde:
- então aprende a dançar...

fernando disse...

a gente nunca cabe na palavra...

Anônimo disse...

não mesmo. nossa, o que seria de nós???
mas o não caber na palavra não era num sentido pleno e sim daquilo que se quer expressar no momento, da falta de ar, do quente no peito, da revirada por dentro.
o corpo que treme , da sola que pia uh!
elas podem ser traiçoeiras e que assim seja, caso contrário não existiria drama.

e o oráculo encerra o expediente, chutando lata, socando parede.

... é, sendo meio autista, desculpa.