domingo, 9 de maio de 2010

intempestivo


Sabe, a gente não precisa passar incólume por tudo. Querer chegar ao final inteiro, completo... Há que se saber perder partes de nós mesmos. Partes que só estariam lá para confundir, atrapalhar. Estorvo! Já que os anéis se foram levem os dedos também, são dispensáveis. Por que não arrancá-los, nós mesmos, de uma vez? Membros necrosados, putrefatos... Não há que sentir a perda do que não vale mais a pena manter consigo. Fiz o melhor que pude, mas meus braços não são mais meus. Não há por que fingir que são. Dispenso a sensação de perda. Prefiro acreditar que eu os arranquei (por que sabia que assim seria melhor). Melhor ainda se depois de tudo ficar a sensação de "porra, deveria ter feito isso mais cedo!"
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"One more drink and I'll be fine
One more girl to take you off my mind "

(The Magic Numbers)

"Minha mão está suja.
Preciso cortá-la.
Não adianta lavar.
A água está podre.
Nem ensaboar.
O sabão é ruim.
A mão está suja,
suja há muitos anos."

(Carlos Drummond de Andrade)

2 comentários:

Fernanda Vicente disse...

"Já que os anéis se foram levem os dedos também, são dispensáveis. Por que não arrancá-los, nós mesmos, de uma vez?[...]Dispenso a sensação de perda. Prefiro acreditar que eu os arranquei".
Que forte isso! É um encarar de frente levado às últimas consequências: fere, mas sana; a transição da carne viva à pele nova.
Excrucitante.

fernando disse...

hahaha, é o excesso de orgulho. o medo de dar o braço a torcer.