quarta-feira, 5 de maio de 2010

I.
não caibo em mim
por toda minha superfície transbordo
onde estão as minhas mãos agora?
(afogando-me, nem posso dar adeus)
não alcanço as extremidades dos meus braços
no escuro procuro meus olhos, mas
são outros os olhos que encontro

o que acho que digo só penso
se perde na língua dormente,
nos dentes cravados, lascivos
e quando penso calado, confesso,
inundo suas quatro paredes
invado seus tantos ouvidos
dissolvo fronteiras,
em busca de abrigo

impregno de tempo sua pele...

II.
verborragicamente
me espalho
ocupo seu chão, seu colchão,
seu teto e seu entorno
sou todo sensações,
todas as sensações!

vazio que estou
flutuo.
não sinto sono
nem sede
(e nem frio)
por que haveria de sentir?
nem ao menos dou por mim
só há esse topor que não me deixa ser menos explícito,
que me impede de estar em silêncio
que me derrete e me anestesia
(e derretemos nós e escorremos pelas beiradas)

não sei mais onde acabo
enfim, transbordo.

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