sexta-feira, 16 de abril de 2010

IV.
reli todas as suas cartas
coisas que nem lembrava mais que existiram
(e existiram aqui!)
descobri outras tantas...
senti-me um vouyer de mim mesmo.
descobrindo segredos,
devorando linhas que não eram pra mim,
não mais...
um amontoado de folhas que guardava para uma sombra
que julgava eu não mais pertencer a este mundo.
será que ele ainda voltaria?
se importaria com a minha indiscrição?

V.
sentimentos e situações desconhecidas.
suas confissões grudavam em minhas retinas
e logo me pareciam íntimas, apesar de apagadas.
duvidei de mim entre o novo e o revisitado, mas
ainda assim pude descobrir duas pessoas nessas palavras.
dei-lhes forma, os recriei.
uma sempre em silêncio, só existia em citação,
muda frente ao descompasso da outra
que ia do lamento à felicidade, da hesitação ao impulso,
de acusações à súplicas no espaço de um parágrafo.
declarações de amor,
irrascíveis
desorganizadas
incisivas
amendrontadas.
assim, como as cartas de amor devem ser

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"Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas. Também escrevi em meu tempo cartas de amor. Como as outras, ridículas."

(Fernando Pessoa)

2 comentários:

Fernanda Vicente disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fernanda Vicente disse...

"Mas, afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas".
Lindo poema e lindo blog! :)