sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

A Culpa é do Fidel

Ótimo filme, que merece algumas palavras...

Conta a história de uma garotinha francesa, na década de 70, até então com uma vida pequeno-burguesa normal, que vê sua vida mudar a partir do momento em que seus pais se aproximam do ativismo político comunista. Mudam-se para uma casa menor, que passa a ser frequentada por "barbudões".

É engraçado ver como uma criança se vê perdida no meio de todas essas mudanças e se confunde no meio de citações a respeito de "vermelhos", "barbudos", "guerra nuclear", "Allende", "Franco", "solidariedade", "aborto"... Justo ela, que "estudava em escola católica e tinha uma casa grande e com jardim". A todo tempo ela está tentando assimilar a nova vida dos pais e muitas vezes, através dos comentários de sua babá ou de sua avó chega a conclusões que nos faz rir (quando o irmão, menor que ela, fala da possibilidade do guarda de trânsito que se aproximava começar uma guerra nuclear e ela responde, de acordo com o que já ouvira, que "quem quer a guerra nuclear são os barbudos vermelhos", ao que o garoto responde que"quem é vermelho e barbudo é o papai noel"). Melhor ainda é quando ela chega à conclusão de que "a culpa é do Fidel", pois sua babá, aparentemente cubana, faz fortes críticas à sua atuação na ilha e aos comunistas em geral (que querem tomar nossas roupas, nossas casas...").

Depois de tanto se falar sobre essas questões ideológicas, é interessante olhá-las sob a ótica de uma criança, que tenta entender o acontece, não com o mundo inteiro, mas com sua vida cotidiana e sua família. E acaba fazendo indagações inteligentes e de difícil resposta aos adultos, que mal conseguem respondê-las ("como saber que você está certo?"; "qual é a diferença entre ser solidário ou seguir a maioria?"). No final o filme não desvia o foco do universo infantil, mostrando como a garotinha conseguiu lidar com essas atibulações e incertezas, mais do que se preocupar em encaminhar ideológicamente a história para alguma conclusão. Independente de quem seja Franco, Allende ou Fidel, ela procura respostas para as coisas à sua volta.

Bom, quem quiser ver que o veja. Veale a pena.

2 comentários:

tarsio vinicius disse...

ow...faz tipo lembrar aquela questao com a qual a criança interroga os pais(e no qual se tem um grande paradoxo entre eles):

de onde vem o bebe?
ou sei lah:
o que é sexo?

fernando disse...

realmente.
o filme é muito sobre uma criança entrando no mundo dos adultos, e tais perguntas como as que você citou acabam entrando no contexto. o divertido é ver ela se indagando com questões políticas e ideológicas, com as quais nem os adultos conseguem lidar muito bem.